domingo, 30 de agosto de 2015

Aconteceu no cinema


Não dirijo.
Opção esta que não me dificulta em nada; mas, às vezes, algum contratempo pode ocorrer.
Foi o caso da melancia no cinema.
Não que eu tivesse pendurado uma melancia no pescoço para ir ao cinema. 
Longe disso que um mínimo de noção eu ainda tenho.
Mas não nego que fui ao cinema portando melancia.

O fato de ter feito a opção por não dirigir, exige planejamento para as coisas cotidianas, para que se aproveite o melhor do tempo e das caminhadas.
Foi o caso do cinema.
Decidimos, eu e as crianças, assim no repente.
Saímos com folga de tempo. E fomos à pé, afinal temos um pequeno shopping próximo a nossa casa.
É pequeno se comparado com os tradicionais, porém supre as necessidades ao unir num mesmo espaço cinema e mercado.

A prioridade eram os ingressos para assegurar um bom lugar, já que as salas são para um público pequeno. Chegar em cima da hora significa ficar com a tela muito próxima ou desistir da sessão.
Escolhemos bons lugares centrais.
As crianças pediram alguma guloseima para acompanhar o drama que nos aguardava.
Claro! Exclamei.
E os fui puxando ao som das interrogações de mãe, mas nós não vamos comprar um chocolate?

Os tempos são de crise e como tínhamos ainda tempo antes do início do filme, eu fui economizar tempo e dinheiro indo comprar no mercado a alguns passos da "vendinha" do cinema onde os preços são exorbitantes.

Peguei um cestinho logo na entrada do mercado.
Mas precisa de cestinho só para pegar um chocolate?

Bem, quando não se dirige, o pensamento tem que ser rápido como virar à esquerda ou à direita.
Sendo assim eu pensei em já comprar umas coisinhas além do chocolate, assim pouparia uma outra vinda ao mercado no dia seguinte. 
Pegaram os chocolates e eu peguei a melancia.
Melancia?
Você vai entrar no cinema com uma melancia?
Sim.
Ah...
Ah, mas se eu não levar agora, quando sairmos do cinema, o mercado estará fechado e quem quererá vir comigo amanhã cedo ao mercado?!
Consentiram a melancia.

Saquei minha sacola de pano e acomodei ali dentro a melancia para que não chamasse a atenção.

Lugares demarcados em nossos ingressos, entramos, sentamos e eu acomodei com delicadeza a melancia no chão.
E então começou um tal de passa gente pra cá, passa gente pra lá. Eu levantava a melancia, punha de novo no chão. 
Licença, licença...
Encolhia as pernas torcendo pro salto da moça não infincar na melancia.
Que sufoco. Que gente chata passando de um lado para o outro.

Choramos no filme. Era bem triste.
Saímos refletindo e conversando. A melancia seguiu no escuro da noite dentro do escuro da sacola.
Já em casa, veio a vontade da melancia.
Fatias generosas do nosso 1/4 da fruta. Era preciso adoçar a noite diante da tristeza da película.

Estava estragada. Completamente estragada.
Eu custava a acreditar; o cheiro não deixava dúvidas.

Um dos filhos com habilidade de leitura de pensamento materno já foi logo dizendo:

"Nem pense em ir reclamar no mercado, porque eu tenho certeza que você vai dizer que levou a melancia no cinema e a moça vai achar isso muito estranho".

Eu também achei estranho. Até agora não sei se foi toda aquela gente passando e a melancia indo do colo ao chão, se espremendo debaixo dos assentos.
Ou se ela, a melancia, também se ressentiu de tanta tristeza daquele filme que até azedou.

Voltei lá no dia seguinte e trouxe laranjas.

6 comentários:

  1. Rsssssssss...Só tu mesmo!@ Essa nunca tinha ouvido falar ,nem visto! ADOREI! Pena que ela azedou e o filme era triste, azedinho também!

    Bela crônica, como sempre! Linda semana! bjs, chica

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  2. Não sei se gostei mais de saber que agora, na nova morada, tem shopping, mercado e cinema a pé da casa de vocês
    Por vcs e pra minha próxima ida pra passar um dia com vcs em Sampa
    Se gostei mais do repente (adoro programas tipo repente)
    Ou se gostei mais do contar ou da foto

    PS: Quando vi a foto, antes de ler imaginei o Cine tinha confiscado a melancia

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  3. A história bem contada da viagem de uma melancia que acabou como o filme
    Um fim triste e ao mesmo tempo divertido... e bem contado.
    Beijos.

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  4. kkkkk ah, mas que coisa!
    Acho que a melancia não gostou de ficar sufocada dentro de um saco plástico e depois dentro de uma sacola de pano. Precisava respirar, uai!
    Eu dirijo, mas não tenho carro. E é assim mesmo, já que vou ali, vou aproveitar e fazer isso ou aquilo.
    Beijos!

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  5. Oi Ana Paula, já estava com saudades!
    Ainda bem que tinham a melancia para adoçar a vida não é?
    Nossa, se tem uma coisa de que eu estou fugindo é de drama. Já bastam os meus e os dos pacientes...
    Bjs

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